24 julho 2005

Mário e as múmias do Soarismo


Tirem-me deste quadro!

Não pretendo com este título fazer alusões à respeitável idade de Mário Soares - aliás à conta disso já entrei em polémica por via epistolar, publicada no Expresso, a propósito de uma sessão de lambe-rabismo Santanista (ainda que em versão resumida, o prometido é devido! :D) da articulista Clara Ferreira Alves.

Simplesmente ao tomar conhecimento na última Sexta-Feira da "onda rosa" (só faltam os "kits Soares é fixe", com visitas grátis à Fundação, "pins" do Parlamento Europeu e tartarugas gigantes das Seychelles em miniatura) que se prepara para varrer o País e arrastar o Professor Silva, lembrei-me desta expressão também lida no Expresso (JAL?) há uns anos atrás, quando também esta hipótese foi aventada.

Desconheço se apesar dos seus mais de 80 anos Soares ainda gostaria de voltar ao Palácio Rosa. Todavia, julgo que tudo o desaconselha a tentar.

Em primeiro lugar, ele saíu vencedor do seu duelo com Cavaco Silva (vá lá, finjam que não houve duelo nenhum...). A saudade com que é recordado mesmo por muitos que nele não votaram, contrastando com o distanciamento de boa parte dos portugueses, mesmo daqueles que lhe deram duas maiorias absolutas, relativamente ao Professor Silva, ilustram-no. Se fosse o Professor Silva a querer a desforra, ainda seria compreensível.

Em segundo lugar, há reais hipóteses de ser derrotado, e com isso a sua estrela empalideceria bastante.

Mas mais importantes que as razões pessoais são as razões políticas. Ao aceitar ser o candidato apoiado pelo Partido Socialista, Soares pôe-se ao serviço dos interesses eleitorais deste. A razão fundamental do empurrar de Soares para a Presidência da parte de Sócrates (o tal que disse que não governava para as sondagens...) é que os dirigentes do Partido Socialista, para além de algum receio eventual (quanto a mim não justificado) que o Professor Silva uma vez eleito pudesse constituir uma força de bloqueio da acção do Governo, é que, antevendo uma derrota nas Autárquicas em que só falta prever o nível, não querem aparecer como derrotados em duas eleições seguidas, cenário inevitável caso, na ausência de Vitorino e Guterrres, apresentem um candidato tão confrangedor como Manuel Alegre. E quantos depositariam alegremente o seu voto em Soares perante tal serviço prestado ao Partido? Eu só digo que teria muitas dúvidas em fazê-lo.