21 março 2006

Budd Boetticher e o Canal Hollywood


Sempre gostei de filmes antigos, e de alguns obscuros. Amanhã à 1:00 e às 13:00, passa no Canal Hollywood "Decision at Sundown" ("Entardecer Sangrento"), de Budd Boetticher.

Budd Boetticher foi um realizador americano que tocou vários géneros, mas se notabilizou particularmente no "western", particularmente na vertente "western psicológico", em filmes invariavelmente protagonizados por Randolph Scott. Sem precisar de espectaculares tiroteios ou ataques de índios, a ênfase colocada nas emoções e motivações das personagens e suas relações interpessoais, sem tornar os filmes uma seca, fazem destes "westerns" de série B experiências algo intrigantes mas, a avaliar pelo único filme que já vi (o fabuloso "Ride Lonesome", neste mesmo canal), altamente recompensadoras.

Até há cerca de um ano atrás nunca tinha ouvido falar de Budd Boetticher. A forma como tomei conhecimento passou pela consulta semanal obrigatória do guia de filmes do canal, acompanhado de sempre elucidativas visitas ao AllMovie.com.

Todavia, não sei durante mais quanto tempo se justificará manter este saudável hábito. Desde o início deste ano a política de exibição de filmes por parte do canal mudou. Não deixando de estrear filmes antigos, aumentou substancialmente a proporção de estreias de filmes recentes, ainda que não "box office smashes" destinados a passar nos próximos anos em canais generalistas ou com generosas mensalidades.

E isto porquê? As audiências, claro. Como (imaginam os programadores do canal, provavelmente com razão) há mais pessoas interessadas em ver um "Olha quem fala" a um "A sede do mal", ou um "Ronin" a um "Não o levarás contigo", adapta-se a matriz do canal para captar audiências e na sequência contratos mais vantajosos com as operadoras de cabo.

Simplesmente deste modo afasta-se a audiência fidelizada ao modelo anterior durante muito tempo, ganhando em troca uma audiência talvez maior, mas certamente muito mais volátil. Quero acreditar que é uma estratégia que não compensará no longo prazo, o futuro o dirá.

Entretanto, vejam o que puderem do falecido Budd. São uns 80 minutos bem passados.

P.S.: dada a muito espaçada actualização do blogue (uma estratégia que essa sim conviria inverter :)), é bastante desadequado escrever obituários, pois muitas figuras que deveriam ser mencionadas são simplesmente esquecidas durante o período de hibernação. Todavia, não posso deixar passar em claro o desaparecimento de José Ramos, uma das pessoas responsáveis pela minha educação musical via rádio, na Rádio Comercial, nomeadamente através do programa "Nova Geração". Tinha apenas 51 anos. Que a sua alma encontre a felicidade etérea que proporcionou a tantos de nós.