05 setembro 2005

Ganda nóia, oh Mendes!


Um homem pequeno, mas com uma grande seta, firme e hirta!

É preciso recuar mais de 10 anos para encontrar um líder da oposição em condições. Chamava-se António Guterres. É verdade que beneficiou do cansaço dos portugueses em relação à forma de governo do Professor Silva, nos últimos tempos muito próxima do autismo, e da falta de vocação para líder partidário de Fernando Nogueira. Mas tem de se lhe creditar o estudo atento e reflexão sobre boa parte dos assuntos da agenda política, e a virtude de falar e aparecer em eventos não apenas para aparecer, mas para ter impacto. Foi o péssimo PM que foi, mas Deus já lhe perdoou, ou não o tivesse colocado a colaborar estreitamente com a Angelina Jolie.

Sampaio não tinha (nem tem, nem nunca terá) a sagacidade de Guterres, foi líder no difícil período de graça do cavaquismo, mas revelou coragem que Guterres não revelou ao candidatar-se à CML e ao fazer dela o trampolim para a Presidência da República, obtendo aí uma doce vingança sobre o Professor Silva. Após isso veio Durão Barroso. Mau na marcação da agenda política, crispado e a roçar o histerismo no Parlamento, com mais duas semanas de campanha teria perdido as eleições para outro candidato e futuro líder da oposição tão pouco entusiasmante como Ferro Rodrigues, ainda para mais ilustre representante da tralha do guterrismo.

Sobre Sócrates passo. Esteve lá pouco tempo, e teve o duvidoso mérito de ganhar umas eleições ao menino guerreiro, que até o Rato Mickey teria ganho.

E chegamos a Marques Mendes. Tinha boas expectativas em relação a ele. É inteligente, tal como Durão o é. Mas tinha sobre ele duas vantagens importantes: um maior faro político, advindo do desempenho de funções muito próximas das bases, e, por contraposição, não alinhava no tacitismo a todo o custo de Barroso.

Cruel desilusão. Mendes fala muitas vezes, mas ou fala em alturas em que a imprensa, a TV e a rádio (e, já agora, a blogosfera ;)), sempre em ritmo acelerado, já criticaram tudo o que havia para criticar, ou aparece para tentar enfiar farpas inúteis ou completamente desajustadas, transparecendo a sensação que, se o Governo tivesse tomado a medida oposta, ele vinha também criticar, sem se preocupar muito com os argumentos. É infelizmente uma forma de oposição que faz escola em Portugal. Por exemplo em Inglaterra, quando um Governo toma uma medida acertada ou necessária, os líderes da oposição não têm problemas em apoiar, ainda que, para marcar a agenda, possam avançar com sugestões de melhoria. Em Portugal toma-se a generalidade dos eleitores por ignorantes (não sem alguma razão...), o que arrasta consigo a conclusão de que a forma mais eficaz de angariar eleitores é o bota-abaixo.

Pior é pensar que, se Marques Mendes não chegar à chefia do Governo, mesmo sem merecê-lo (tal como aconteceu a Barroso, e a outro líder laranja de que não me lembro agora do nome), e for borda fora na sequência de um dos próximos actos eleitorais, as opções conseguem ser piores. Não é Alberto João Jardim a figura mais mediática do Partido? Alguém acredita que António Borges se disponha a liderar o Partido, ou que os congressitas laranjas elejam Manuela Ferreira Leite ou Pedro Passos Coelho?

A falta de qualidade da classe política (entroncando no absurdo nível de remuneração dos deputados e da falta de controlo efectivo em relação aos actos dos dirigentes do Poder Local) é de facto um dos grandes problemas do país, sendo o maior, que não se resolve numa geração, a mentalidade invejosa, mesquinha e facilitista do próprio povo.

P.S.: Muitos analistas políticos concordaram com o meu post sobre o Tio Mário. Para quando um convite ao Exterminador para um comentáriozito político na TV?